7 de agosto de 2010

O Talvez - A Mão - A Ilusão



Talvez eu coloque tudo no lugar e sopre para que o pó saia completamente, deixando tudo limpo, um verdadeiro espelho, novinho, novinho. Com o passar do tempo o relógio continua a dar passos lentos, impedindo que o tempo ande, permanecendo intacto, paralisado pelas atitudes errada, tola e inesperada, criando um ambiente de impaciência que incomoda a mão que escreve...A mão precisa de silêncio para se concentrar. O sofá já virou esconderijo. É caverna. Poderia ser eterno, mas não é.




Talvez a obrigação fosse encorajamento, mas já fugiu faz tempo, se perdeu no meio do caminho, do instinto. O copo de suco deveria ser a saída para a sede – já a boca decide pela água, pela sensação incondicional do primeiro gole. A caixa de chocolate se resume em pequenas embalagens amassadas pela mão, pelo desejo, que são reféns do passado, do estado. Está no ser compartilhado, no fruto paradisíaco, da voz enfeitiçada, de essência doce, prazerosa.


Talvez eu coloque a fatia do pão no prato, seria meu corpo fatiado, compartilhado entre si, ingerido pela vontade de se alimentar, ficando pra traz as migalhas. Restos de incentivos, momentos dilacerados pelos dentes, logo após esquecido pela arrogância predestinada em fatos. A mão vive de ilusão. A Coitada pensa que pode mandar nas pessoas! Ela não manda em nada... Nunca mandou. A mão tem que ser mais humilde para alcançar seus objetivos, subindo degrau após degrau, chegando então ao êxito.


-O que ficou?


- A mão presente na mesa, no presente - A mão é a vilã da história, do ocorrido. Talvez ela pare talvez não, ela é rebelde, compulsiva, pega o que não deve. A mão sempre foi rejeitada, deixada no escuro, sozinha tenta se levantar,dedo após dedo, está debilitada, sem direção. A ilusão é o escudo para que ela continue inspirada elaborando frases, escrevendo sem parar, canalizada dia-a-dia verbalmente, como uma bala perdida, sem foco, sem alvo pretendido.


Talvez a mão será heroína, talvez não, talvez escale prédios e chegue ao topo. Ilusão com suas frases, talvez tenha razão ,seja café quente ou não. Mas ela insiste, pois as portas ainda continuam abertas.

2 comentários:

  1. E enquanto houver uma porta aberta ela vai estar lá, escondida entre as paredes, debaixo dos escombros para erguer tudo o que ficou e trazer o que não existe mais. Apenas ela, a mão..


    Muuito bom o texto! Parabéns..

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  2. 'Poderia ser eterno, mas não é.' - Poderia ser um verso, não é? Ainda mais com esse ponto final maravilhoso, diria até providencial!
    Adorei teu blog, guri!
    beeijo

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E essa passagem te eternizará...