29 de julho de 2011

Nossa alma precisa de alimento...




Por: Carla Reichert




Senhor, dai-me forças,
para que eu jamais esqueça de alimentar minha alma.
Para que eu sempre lembre que o Senhor está comigo.

Que eu não caia nunca em fantasias...
que minha alma renasça limpa a cada dia...
que nosso desejo da carne não ultrapasse nosso espírito.

Que eu não deixe de existir como uma pessoa completa...
que eu não seja somente um corpo que anda sobre duas pernas graciosas...
que eu lembre sempre que não sou só carne mas sim carrego comigo minha alma.

Que ela precisa de alimento...
que eu olhe para os céus e agradeça por esta vida...
que não sou somente um sobrevivente.

Que não posso brincar de vida...
que a vida é uma só e é uma passagem.


Não podemos esquecer que somos pessoas completas. No mundo atual , moderno há tanta correria que nos esquecemos do alimento espiritual.
O alimento da alma. Nascemos com ela, desde o ventre de nossa mãe, somos corpo, alma e espírito.
Deus jamais mandaria bonecos de carne e osso, seres humanos perfeitos, feitos sua semelhança.
Não viemos neste mundo para um simples brincadeira, onde somos corpo andando sobre pernas graciosas. Quando esquecemos desse alimento, andamos como zumbis, fantoches
para esse mundo tão diversificado e intrigante e cheio de armadilhas. Só andaremos em paz quando entendermos que nossa alma precisa de paz. Jamais conseguiremos isso se andamos fora dos trilhos, destrambelhados e sem vida. Alma é vida e para nos lembrar disso, há horas na vida que nossa cabeça pede socorro. Por que será?
Será que estamos esquecendo de parar, pensar e entrar em profunda meditação? Reflexão? 
O que somos na Terra? Somos seres humanos providos de inteligência, em um corpo complexo, feito de órgãos onde corre sangue nas nossas veias.
Temos nosso corpo espiritual e este é a nossa alma. Quando dela nos esquecemos, nossa vida começa a andar para trás e não sabemos o motivo.
Temos propósitos que não são visíveis. Uma alma sem luz é um corpo que perambula, que vai por caminhos errados, renegando nossa verdadeira existência.
Procure estar canalizado para essa luz que é Deus querendo nos alertar que não somos só carne. 
As pessoas mais felizes são aquelas que não se esquecem do alimento. Irradiam luz e alegria quem está sempre em contato com o que não é material, com o que nos sinaliza que não viemos aqui sem uma missão, não viemos ocos, não somos somente órgãos complexos dentro de corpos esguios ou não.
Muitas pessoas usam válvulas de escape, fazendo do corpo sua lixeira para frustrações. Comendo exageradamente, caindo nas drogas, no álcool, no sexo desenfreado e nas ilusões.
Seria essa a hora de parar, procurar em oração uma conversa franca e solitária com Deus. Em silêncio ele vai te ouvir e irá te mandar os sinais, te dizendo que estás esquecendo que não fostes feito para o que é material, mas sim para a luz divina, que só estarás equilibrado quando sua alma estiver em paz , em harmonia.
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Imagem:google.com


Morena Áurea...

Fala-me, sei que tua boca pede para chamar meu nome, meu apelido, aquele que insistia em chamar-me incessantemente.
Enquanto o mundo dormia, eu ouvia tua respiração sobre meu peito, você estava segura em meus braços, em meu afeto, em meu lençol.

Fala-me... devagar, l-e-n-t-a-m-e-n-t-e as tuas vontades, esse teu instinto de liberdade era o que me fazia sonhar, e por alguns instantes eu estava, eu acreditava plenamente... não existia algemas.

Fala-me, com sabor, som suor, com sussurro, os teus principais desejos. Essa sede que tinhas, sufocava-me por dentro, era um anestesia em mim, na minha crença, nos meus votos santíssimos.

Fala-me, e não imputes de minha face a tua imagem de pérola negra, cativas de imediato minhas raízes. Tu és ribeiro morena áurea.

Dirija-me, e saberei andar em tuas curvas, e em tua praia serei a tua maré alta, a brisa sincera, a gota do frescor na água da tua boca.

Morena Áurea, a solidão prevista.

Imagem: flickr.com

28 de julho de 2011

Deitrick Haddon - Well Done

Cativo...

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...Era cativo em mim as palavras, e nas letras o meu espírito repousava, 
era verbo, 
era sílaba, 
era o meu ser deitado em ti.
Procurando desesperadamente esse abrigo existente, fadonho e alucinante. 
Esse teu livro pessoal...

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“É nesse ar fresco que teus cabelos são levados, é neste perfume que os líricos exalam que me enxergo em teu caminho...”


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26 de julho de 2011


...

É a esperança de ter saída que me mantém refrigerado por dentro, e tendo noção de escape presto atenção nos teu lábios, vejo de forma latente que queres pronunciar palavras de amor, e nos balbucios do teu ego menina é que se cria em mim a tal esperança alheia, porque de mim mesmo não teria.
Admiro-me ao ver que ainda carregas debaixo dos teus cachos, a
sinceridade, de não me ter... de não me querer!




22 de julho de 2011

Uma Amizade Sincera | Clarice Lispector.







 Não é que fôssemos amigos de longa data.
Conhecemo-nos apenas no último ano da escola. Desde esse momento estávamos juntos a qualquer hora. Há tanto tempo precisávamos de uma amigo que nada havia que não confiássemos um ao outro. Chegamos a um ponto de amizade que não podíamos mais guardar um pensamento: um telefonava logo ao outro, marcando encontro imediato. Depois da conversa, sentíamo-nos tão contentes como se nos ti­vés­se­mos presenteado a nós mesmos. Esse estado de comunicação contínua chegou a tal exal­tação que, no dia em que nada tínhamos a nos confiar, procurávamos com alguma aflição um assunto. Só que o assunto havia de ser grave, pois em qualquer um não caberia a veemência de uma sinceridade pela primeira vez experimentada.
Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonava, encontrávamo-nos, e nada tínhamos a nos dizer. Éramos muito jovens e não sabía­mos ficar calados. De início, quando começou a faltar assunto, tentamos comentar as pessoas. Mas bem sabíamos que já estávamos adulterando o núcleo da amizade. Tentar falar sobre nossas mútuas namoradas também estava fora de cogitação, pois um homem não falava de seu amores. Experimentávamos ficar calados - mas tornávamo-nos inquietos logo depois de nos separar­mos.
Minha solidão, na volta de tais encontros, era grande e árida. Cheguei a ler livros apenas para poder falar deles. Mas uma amizade sincera queria a sinceridade mais pura. À procura desta, eu começava a me sentir vazio. Nossos encontros eram cada vez mais decepcionantes. Minha sincera pobreza revelava-se aos poucos. Também ele, eu sabia, chegara ao impasse de si mesmo.
Foi quando, tendo minha família se mudado para São Paulo, e ele morando sozinho, pois sua família era do Piauí, foi quando o convidei a morar em nosso apartamento, que ficara sob a minha guarda. Que rebuliço de alma. Radiantes, arrumávamos nossos livros e discos, pre­pa­rá­va­mos um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto - eis-nos dentro de casa, de braços abanando, mudos, cheios apenas de amizade.
Queríamos tanto salvar o outro. Amizade é matéria de salvação.
Mas todos os problemas já tinham sido tocados, todas as possibilidades estudadas. Tínhamos apenas essa coisa que havíamos procurado sedentos até então e enfim encontrado: uma amizade sincera. Único modo, sabíamos, e com que amargor sabíamos, de sair da solidão que um espírito tem no corpo.
Mas como se nos revelava sintética a amizade. Como se quiséssemos espalhar em longo discurso um truísmo que uma palavra esgotaria. Nossa amizade era tão insolúvel como a soma de dois números: inútil querer desenvolver para mais de um momento a certeza de que dois e três são cinco.
Tentamos organizar algumas farras no apartamento, mas não só os vizinhos reclamaram como não adiantou.
Se ao menos pudéssemos prestar favores um ao outro. Mas nem havia oportunidade, nem acreditávamos em provas de uma amizade que delas não precisava. O mais que podíamos fazer era o que fazíamos: saber que éramos amigos. O que não bastava para encher os dias, sobretudo as longas férias.
Data dessas férias o começo da verdadeira aflição.
Ele, a quem eu nada podia dar senão minha sinceridade, ele passou a ser uma acusação de minha pobreza. Além do mais, a solidão de um ao lado do outro, ouvindo música ou lendo, era muito maior do que quando estávamos sozinhos. E, mais que maior, incômoda. Não havia paz. Indo depois cada um para seu quarto, com alívio nem nos olhávamos.
É verdade que houve uma pausa no curso das coisas, uma trégua que nos deu mais esperanças do que em realidade caberia. Foi quando meu amigo teve uma pequena questão com a Prefeitura. Não é que fosse grave, mas nós a tornamos para melhor usá-la. Porque então já tínhamos caído na facilidade de prestar favores. Andei entusiasmado pelos escritórios de co­nhe­ci­dos de minha família, arranjando pistolões para meu amigo. E quando começou a fase de selar papéis, corri por toda a cidade - posso dizer em consciência que não houve firma que se reconhecesse sem ser através de minha mão.
Nessa época encontrávamo-nos de noite em casa, exaustos e animados: contávamos as façanhas do dia, planejávamos os ataques seguintes. Não aprofundávamos muito o que estava sucedendo, bastava que tudo isso tivesse o cunho da amizade. Pensei compreender por que os noivos se presenteiam, por que o marido faz questão de dar conforto à esposa, e esta prepara-lhe afanada o alimento, por que a mãe exagera nos cuidados ao filho. Foi, aliás, nesse período que, com algum sacrifício, dei um pequeno broche de ouro àquela que é hoje minha mulher. Só muito depois eu ia compreender que estar também é dar.
Encerrada a questão com a Prefeitura - seja dito de passagem, com vitória nossa - continuamos um ao lado do outro, sem encontrar aquela palavra que cederia a alma. Cederia a alma? mas afinal de contas quem queria ceder a alma? Ora essa.
Afinal o que queríamos? Nada. Estávamos fatigados, desiludidos.
A pretexto de férias com minha família, separamo-nos. Aliás ele também ia ao Piauí. Um aperto de mão comovido foi o nosso adeus no aeroporto. Sabíamos que não nos veríamos mais, senão por acaso. Mais que isso: que não queríamos nos rever. E sabíamos também que éramos amigos. Amigos sinceros.

20 de julho de 2011

Dia do amigo!

Sem sombra.
Sem dúvidas.
É um ser projetado para caminhar lado a lado, no convívio da generosidade, é um nome a ser escrito na palma da mão, no solo do coração.
Deveria ser lenço.
Deveria ser o calor.
Deveria ser papel.
É significado precioso, odre sem trincas, verbo bem conjugado, conexão com o afeto.
Em suprema circunstância ele está junto com o ponteiro do relógio.
Um acento, uma ponte, uma palavra de animo. 
É nobre, é aroma.

Em cada momento é apenas o que precisamos, o que ansiamos, o que nos alegra de continuo.
Os episódios de minha vida pertence a você amigo... meus amigos.

19 de julho de 2011

Kings Of Leon - Closer [Live]

Encontros...

...Estrangeiramente era um sufocamento só, uma entrega calibrada com uma imensa atmosfera de uma raridade conveniente, de se ter o bastante para amar.
O peito que era amante da menina dos olhos buscou rapidamente se esconder como tolo, para surpreender sua amada. 
Nesse caso tudo estava inaugurado, era a véspera da felicidade.









15 de julho de 2011

Descompasso | Blog Enttreaspas.

O texto que vou postar aqui hoje não é de minha autoria, porém a essência contida nele pertence a mim, em mim.

Quero parabenizar a Bibiana por simplesmente escrever o que eu precisava ler, o que eu precisava absorver com meu tato espiritual.

Leia: 

Descompasso





Segura minha mão, me abraça, Recita poemas, diz frases soltas, me convence que nós ainda podemos ser. Fala baixinho no meu ouvido, se debruça no meu ombro, me nina, me rima, soma. Me faz querer ficar, me traz pra perto, me faz querer dizer, e diz. Brinca, deixa a alma se expor, o coração transpor, verso teu e meu numa linha tênue. Código nosso. Sintonia nossa. Incensos e orações tão nossos. 

Pula, anula, segura no meu laço, decifra, antecede. Planta lírios, açucenas, floresce em mim mais uma vez. Abandona o passado, escreve, desacelera, volta pra casa, desperta meu riso repentino, me traz 'todas aquelas coisas boas'. Traz também a leveza das tuas mãos, do teu corpo, estampa sorrisos pela casa, amanhece em mim. Perfuma com teu cheiro as ausências que se acumularam. Descompassa minhas certezas tortas.




14 de julho de 2011

Quando o ser clama...




Quando não há mais palavra para expressar meu longo elogio, eu apenas soletro, eu apenas me diminuo.
Quando não há mais uma entrega do abraço e superficialmente o peito aflora, meu olhar procura em todas as direções.
Quando perco-me em minha escuridão interior, ou fecho a porta dos sonhos mortos, chamo-te pelo nome, sei que me responderás de longe – e virá socorrer a minha alma.
Quando o amanhecer diz muito de si mesmo e trás benevolência a atitude mal sucedida, procuro me orientar em ti, é nos cheiro dos caracóis dos teus cabelos que retorno a respirar, logo após  um ato de afogamento de mágoas.
Dirijo-me a ti, sabes receber calorosamente o tato, o meu tato.
Quando não há mais uma flecha a ser lançada, jogo-te as minhas rosas, sei que o sensível gosta dessas coisas , e lembrando que elas possuem espinhos. Cuidado elas gostam de machucar os dedos da gente!
Quando não te ver mais chances de ter, pode ter certeza, morrerei por dentro de um instante jamais vivido... 




11 de julho de 2011

No que acreditar ?




Acreditar no tempo que leva consigo o resultado, e nessa experiência as mãos renascem.
E nesse passatempo das coisas a criatividade se banha nas águas do crer, e se enxuga com a convivência e o trabalho realizado.
Acreditar no tempo, pois ele é a razão de existirmos, é uma expressão acidua da arte criada, é a subida da fragilidade com o que acabou de nascer, da mente, do ser.
Acreditar no tempo envelhecido, no rasgado, no convidativo. E nesse rabisco é que se evolui para a satisfação, para o excelente, é o que atrai a menina dos olhos.
Acreditar no papel em branco que o tempo nos oferece. 
Nas somas que os nossos números ostentam. 
Na grandeza do saber criativo.
E nessa timidez a mão não para de criar, de rabiscar. 
Uma aquarela de entusiasmo, uma mente que acredita com o passar do tempo...
Indesistivelmente acredita.




8 de julho de 2011

Era...

...Era o absurdo que procurava tragar-me o instinto, 
era o beijo que acalentava meus anseios mais relevantes, 
puramente adocicados pelo mel de tua boca.

7 de julho de 2011

Blog Eternus! ganha selo Sunsine Award...




Mais um selo significativo ganhado do Blog "Deus que falar com você" 
da Sueli Guedes, uma pessoa maravilhosa que sempre está presente com seus comentários.
Confesso que fiquei alegre com o presente, e ofereço o selo à todos os membros do Blog
Eternus! como forma de prestígio e lealdade...






Um abraço fraternal,

Editorial

A causa de não ter...

...Ventuosamente e implacável se juntava ao mesmo de antes, uma causa sem efeito algum.
Era o que dizia os dedos dos curiosos, dos incrédulos que não manifestavam sentimento romântico aparente.
e como calo de pé o dolorido prejudica o andar, seguindo essa linha os dedos nunca saberiam o que é o amor, pois bem longe se avistava a solidão que carregavam na pele, na sua pele...

6 de julho de 2011

Vanessa Da Mata - Amado

Crônicas Eternais | Maria Eduarda...


Ouvir-se-lhes-ia o pulsar de uma revolta aparente, de um aprendizado nostálgico – era o amor!


Caminhando com a lata d’água na cabeça uma sombra a retrai, de longe se avista Maria Eduarda – nome de mulher famosa e de boa fama. Já cansada de andar num sol de queimar, senta-se um pouco para descansar da presa inconsciente da uma vida miserável do sertão, da caatinga nordestina.
Copiosamente estremecia sua queixa, e olhava pro céu sem nuvens e fadigava Deus com seus lamentos, por tão cruel castigo, ela então preferia a morte.
Já tinha implorado, deixado de lado e bem baixinho cochichado as suas decisões. Uma de suas armadilhas era a incansável e latente expressão de si mesma, e sem causa ganha entre ela e Deus o sentimento prevaleceu. Preferiu molhar-se com a água que carregava na lata. Enquanto a água refrescava sua face sofrida, o coração de Maria Eduarda se agitou, pois lembrara que ainda amava, ainda sussurrava em seus ouvidos o sonho de casamento, e por um momento o vestido de renda era bordado em sua mente. E ali mesmo onde estava esquecera por um instante da sua realidade de magricela nordestina.
Levantou-se com uma energia tal e cheia de vaidade agitou seus cabelos negros, agarrou a lata d’água e seguiu seu caminho, sua obsessão.
Maria Eduarda não tinha boa fama, era menina nova, porém já sabia amar, já sabia as conseqüências de um toque, de um beijo no pescoço, e de uma mão na cintura. Era menina esquentada, dava trabalho para sua mãe – mãe nordestina.
Era de se admirar os olhos, e de bater forte o coração, menina dos cabelos escuros, fios de pura má intenção, o masculino sofria ao seu lado.
Casara aos 17 anos com um jagunço, por sua mãe ser solteira não dava ouvidos ao que dizia, e seguia enfrente com o relacionamento prematuro que carregara, e mal sabia ela que seria a sua desgraça. 


1 de julho de 2011

O primeiro beijo - Clarice Lispector



Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples:
- Sim, já beijei antes uma mulher.
- Quem era ela? perguntou com dor.
Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer.
O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros.
E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca.
E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo.
A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava.
E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos.
Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando.
O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava... o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos.
De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos.
Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água.
E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra.
Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida... Olhou a estátua nua.
Ele a havia beijado.
Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido.
Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil.
Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele...
Ele se tornara homem.
 
 

Congelar...



...O que congelava não era o medo, e sim nossa tolice de não acreditar que amores nascem de momentos de fúria. 
E de certo modo a covardia nos jogou fora do elo, da janela dava pra ver sua alegria, mas quando entrava na casa, não havia saída, era como se você não habitasse lá, e permaneci congelado por não acreditar, por não existir em ti.



Trechos: Crônicas Eternais




...Tinha o cheiro mais incomum, capturava os sedentos de uma vez só, um riacho no deserto do pavor.
Os corações diziam que era a boa conversa em pessoa, os risos gesticulavam como se fosse hilário o abraçar das folhas e o desprezo dos ventos de inverno. As mãos o queria pra si, o pé batia firme no chão reclamando que era felicidade demais para as mãos, porém o corpo precisa muito daquele tom inesperado, do cheiro de verdade.
Enquanto todos questionavam, ali escondida entre a fechadura do querer e o lapidar das chaves da compreensão a alma estava esperançosa, havia esperado por muito tempo pelo tal cheiro incomum, pela liberdade, pelo respirar fundo e pelo sono tranquilo, ela realmente precisava de saciamento contínuo. A alma o sentia à quilômetros, era beijo quente, era beijo insaciável para quem pretendia matar se fosse preciso...