29 de novembro de 2011

A casa de todos.





Desde o início da existência, a vontade de se ter um abrigo sempre foi emergente, e com zelo, apreciada pelo querer.  E por isso o ser humano procura atentamente um lugar pequeno para se guardar, uma caixa de fósforos que o deixe aquecido do inverno da alma, do gelo matutino da ambição. E lutando contra todos, faz de sua observação uma manta pra se cobrir, evitando a doença – o martírio.
Nessa morada particular o eu se refugia, retém-se no resultado final – o ponto final é opcional, a vírgula precisa incansavelmente está atenta para não furar o caminho, para que a frase não caia no abismo da incompreensão, dos fatos deixados sem anestesia local, e por mais que tentem o fim é inevitável. Não se tem uma medida exata dessa casa, sei apenas que dá pra guardar o corpo, o gole de água que a garganta implora.
Não é fácil achar a morada particular, essa procura é cansativa, é preciso sentar no sofá das queixas e tomar um café, apenas um café é solucionável, é pediátrico – tem haver com a capacidade de encontrar um buraco pra se esconder, e se esconderijo fosse perpetuo, os fósseis teriam um valor histórico incrível, seriamos o incalculável.
A casa de todos sempre foi um segredo pra mim. Dormir na rede expressa a grandiosidade do sono simples, pois não há rebelião satisfatória, e nem se quer uma fantasia medonha que usurpe essa simplicidade, o sono tranquilo. Em conversa com a lua, não obtive respostas, lembrei-me então que a lua não fala, ela apenas me observa de lá de cima, com ela não tem papo, e se torna um verbo falido. É de fato obscuro na relação do imaginário com o racional, e de vez em outra, procuro-me lactantemente o sabor da vida, a degustação da sobrevivência, do irremediável.
Então, se aprende que cada um possui uma casa particular para fugir das torturas do inesperado, do “toc-toc” na porta, do mostro do armário. É de importância relevante que se julgue o grau de medo existente, e em que organização ele pertence, vence-lo é honroso, é um trono nos aguardando, um rabisco que vira desenho, um espinho deixado de lado.
E no final da existência cadê a vontade? Cadê o valor da casa particular que muito nos custou à vida, e os momentos preciosos? A casa particular de todos é uma cruz pesadíssima, é madeira, é sangue! Não se retém o querer, pois de tanto se achar é que se perder, tanto que se quer se esconder, de tanto chover é que se inunda, e de se tanto guardar nos acostumamos com o escuro...

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