‘Eu
disse a ele que me sentia uma garota cega na janela. Acho que eu sempre
vou querer vê-lo de longe, mas eu não vou poder olhar porque isso me
doeria muito. E eu sempre vou desejar o melhor a ele, e eu não pretendo
amá-lo para sempre, mas por enquanto eu o amo, e por enquanto eu observo
de longe sem ver.' K.T.
É
que, bem, eu nem mesmo queria, e disse isso a ele... Seria tão mais
fácil culpá-lo pela insistência, do modo como me culpo agora por ter
cedido. Estava vazia, incompleta, sim, mas norteada, direcionada; ele
não tinha nada que...
O
que acontece é que agora não adianta mais, estou cega e presa. Presa
dentro dos limites possíveis que não me permitem agir e comandar de
acordo com a minha vontade; e ainda que ele fosse mal, que fosse
hipócrita - eu poderia mandar prendê-lo. Mas ele não é ! O que torna
todo o mal já feito em erros e ‘impretensões’ de minha parte. Sinto
dizer-lhe, mas mulheres jamais podem ser culpadas.
Por
Deus, eu havia me exorcizado tantas vezes por pecados alheios que nem
me é possível contabilizá-los novamente; houve tanta dor lasciva e mal
formada de amor adolescente, porém, agora eu sou mulher e então dói
mais. Dói como fracasso pessoal e perda financeira. Coração não se refaz
assim do zero, então vou lhe contar a história da menina que morava
dentro dele, quem sabe assim acabo reconstruindo-o:
‘Ela
havia nascido um pouco cega, não havia muito espaço para o próprio
crescimento, o lugar era bastante apertado e ao invés de se expandir,
regredia cada vez mais, se apertando em dor de medo, e a menina ia
sofrendo. Como era pequenina, na primeira expansão já se foi correndo,
ingênua, ia crescendo e enxergando cada vez mais – os olhos, mal
acostumados, iam míopes e ela acabou sofrendo grande queda, machucou-se,
doeu muito. O lugar de nascimento regrediu um pouco, mas não havia
muito que fazer: a primeira e grande expansão é para sempre, algumas
paredes se quebram, sempre dói, mas é para sempre. Então, a menina
pequenina se aquietou, viveu sua nova vida, sob as perspectivas de sua
nova expansão, reconstruindo e construindo tudo aos poucos, focada. Foco
também incide em um pouco de cegueira, é como olhar sem ver, deste
modo, porém, as coisas poderiam continuar, o que se encaixa dentro do
conceito de bom e permitido.
Permissão?!
Não, nunca houve permissão, esse lugar onde a pequenina morava vivia
meio aberto e meio fechado, em uma convulsão de sístoles e diástoles, ao
que ela sobrevivia... A última vez que aconteceu tornou as coisas
piores, ela, já calejada, correu com maior obstinação, no puro risco de
se perder, mas coexistindo com a fé, o que por si só era a segurança.
Correu tanto, mas por pouco tempo, dessa vez nem caiu, estancaram-na;
não lhe deixaram continuar o caminho que seus pés queriam traçar. O
caminho veio e ela o havia escolhido, estava pronta, mas desta vez não
lhe permitiram.
Ela
voltou sozinha, desta vez, vagarosamente, com olhar baixo, para o chão.
As janelas do lugar se embaçaram todas, não havia como comprimir. Ela
queria continuar olhando para o caminho que havia escolhido que não mais
lhe pertencia, então ela não poderia enxergar. Nunca podemos enxergar
aquilo que não é nosso, os olhos querem capturar, como fotografias, e
fica como algo inexistente, esperança esfumaçada. Então a menina ficou
cega de vez, cega de ‘inesperança’, cega de não pertencer. Continua
vivendo, sim, não se sabe até quando... Ela guardou o caminho em algum
lugar, mesmo sem enxergá-lo, da próxima vez será necessário desmatar
muito mais e gerar uma nova trilha, a cada vez ela aprende a enxergar
novamente, mesmo cega, enxerga com seu próprio corpo e vontade, afinal,
depois de algumas vezes não precisamos mais dos olhos.’
- Poderia parar no próximo ponto, por favor? Está um pouco nublado, daqui eu não posso enxergar muito bem...Imagem: Google.
Adorei teu blog, quanta coisa linda.
ResponderExcluirEstou seguindo. Parabéns :)
Se der da uma passadinha no meu e segue de volta?
http://julianabraz.blogspot.com/
Beijos.