...Para morrer basta está vivo...
O caminho é tão longo. O sol está tão quente, e a sede nos lábios seca o interior suado e fadigado por tal castigo. Neste caminho lembrei do tempo do sorriso, das brincadeiras do tamanho de criança, dos duelos do carinho e da velha esquecida canção de amar. Olho para o campo a frente vejo um palco erguido em meio ao vale sem vida e desértico, notei o som das guitarras, mas não havia músicos, nem a presença de um PopStar no tosco palco montado no nada, nem da multidão enlouquecida freneticamente. Apenas o meu corpo cansado e com sede. Apenas entre EU e o palco, o som. cheguei mais perto. Vivo eram os sons das guitarras e dos solos com passadas rápidas, de tão intensa que era a melodia, os meus pés se abalaram. Abalaram as cortinas de minha memória de curto prazo. Estremeceram minhas cadeias. Os solos de guitarra tinha o poder de libertar o coração algemado pelo medo de pular de paraquedas, os solos geravam adrenalina que corriam pelas veias da atitude precipitada, causando alívio instantâneo sobre a causa do aflito, que no caso era EU.
Mais uma vez deparei-me sem relógio, perdido no tempo. Naquele exato momento estava por um fio. Vi a tesoura. Alguém queria cortar. Alguém tinha autoridade o suficiente para romper o fio, porém não foi me dado o direito de olhar para sua face, mas de uma coisa EU tinha certeza, se o fio fosse cortado, minha vida também chegaria ao fim. Naquela hora decisiva de minha vida, a única riqueza que EU almejava e foi me negado era um simples copo de água. Um copo de água seria o bastante para neutralizar a secura dos lábios e o clamor sequíssimo da divisão da alma e do espírito.
O caminho é muito longo! A música é muito intensa! Os meus pés estão sobre o vale da sombra da morte. O meu corpo está cansado! O meu corpo está esperando! A minha única esperança está depositada em um copo de água. Eu quero a bendita água. Socorro!!! Eu quero água, as guitarras não param de tocar, tento colocar as mão no ouvido, pois alguém aumentou o volume, estou ficando surdo. O caminho é muito longo, os meus olhos dizem para mim.
S-I-L-Ê-N-C-I-O...
“Em 21 de Abril de 1976 na UTI de um importante hospital de São Paulo, o coração de um grande astro do Rock para de bater, os aparelhos indicam falecimento múltiplos dos órgãos. O corpo falece, sozinho, sem amigos, sem familiares. Sua única companhia está ao lado, um copo de água que ele não conseguiu beber.”